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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Argentina revela os bastidores do golpe paraguaio

CRISTINA KIRCHNER RETIRA SEU EMBAIXADOR DE ASSUNÇÃO E O CHANCELER HÉCTOR TIMERMAN EXPLICA, EM ENTREVISTA, POR QUE O QUE SE DEU NO PARAGUAI NÃO CUMPRIU OS RITOS DEMOCRÁTICOS; ELE AINDA REVELA TEOR DA CONVERSA ENTRE O CHANCELER BRASILEIRO ANTÔNIO PATRIOTA E FEDERICO FRANCO 24 de Junho de 2012 às 08:40 247 – De maneira mais contundente do que o Brasil, a Argentina já tomou medidas em relação ao Paraguai. A presidente Cristina Kirchner retirou seu embaixador de Assunção e o chanceler Héctor Timerman concedeu uma elucidativa entrevista explicando por que o golpe paraguaio foi, de fato, um golpe. Leia: “É triste o que ocorreu” Página 12 – Como a Argentina caracteriza a mudança de governo no Paraguai? O governo argentino caracteriza que estamos frente a uma quebra da ordem democrática. Por que, se a destituição de Fernando Lugo se baseou em juízo político? No Paraguai, foi utilizado um mecanismo previsto na Constituição, mas que foi aplicado de tal forma que feriu não só o espírito desta mesma constituição como de toda a prática constitucional do mundo democrático. Qual foi a violação? Praticar uma execução sumária. Dar horas de defesa a um presidente democraticamente eleito. Um tempo menor a um motorista que atravessa um sinal vermelho. É triste ver o que aconteceu no Paraguai. Foi triste ver Lugo despachando em sua mesa, sem papéis, no momento em que o Congresso o destituía. Os chanceleres da Unasul estavam com ele naquele momento? Sim. E isso depois de termos buscado todas as alternativas. Mas não encontramos interessa algum na oposição em dialogar conosco e em buscar alternativas à execução sumária de um presidente. O que dizíamos era claro: estávamos ali para respeitar ao mesmo tempo a soberania do Paraguai e os acordos internacionais que todos nós firmamos. Os textos da Unasul e do Mercosul? Ambos. E dissemos isso tanto à oposição quanto a Lugo. Não só o Paraguai, mas todos nós estamos obrigados a cumprir os acordos que assinamos. Em algum momento, os chanceleres da Unasul enxergaram a possibilidade de acordo? Quando chegamos e falamos com Lugo ainda havia esperança. Mas depois fomos trombando com a realidade. Primeiro, nos reunimos com dirigentes do Partido Colorado, que nos disseram que o governo Lugo era inviável e tinha que partir. Depois, com membros do Partido Liberal e um dos seus líderes nos disse: “O melhor que os chanceleres da Unasul podem fazer é partir”. Qual foi a resposta? Esta: “Senhor, são 11 da manhã e o juízo começa em uma hora. O que podemos fazer para impedir que a situação não se agrave?” Ele respondeu: “A Constituição define formas de fazer um juízo, não prazos”. E eu insisti que se tratava de um chefe de Estado que assumiu com representação popular. (...) Depois insistimos com o argumento de que viriam tempos duros para o Paraguai, porque teríamos que aplicar a cláusula democrática. Mas nada os comovia. Ali se decidiu que eu e Antônio Patriota, o chanceler brasileiro, falaríamos com Federico Franco. Ele ainda era vice. Sim. Eu disse: “Falta pouco tempo. O senhor acredita que é justo o que estão fazendo? Pensa que o mundo vai reconhecer a destituição desta maneira como um procedimento correto?” Eu me lembro da sua resposta: “No Paraguai, um vice-presidente tem três tarefas: participar das reuniões de gabinete, fazer a relação com o Congresso e assumir em caso de morte, enfermidade ou destituição do presidente. Vou cumprir a constituição paraguaia.” Um de seus assessores lembrou o caso do ex-presidente brasileiro Fernando Collor, que teve licença de seis meses. Perguntamos se dariam esse tempo a Lugo. E eles nos disseram que se não houvesse a mudança a violência começaria no dia seguinte. Pelo visto, Franco estava muito decidido. Ele afirmou: “Sou médico e estou acostumado a tomar decisões”. Respondi que um médico tenta causar o menor dano possível ao paciente e que ele estava causando o maior prejuízo ao Paraguai e à democracia. No fim, eu e o Patriota nos despedimos calmamente, não sem antes dizer que ele estava concretizando um golpe de Estado. O Mercosul vai castigar o Paraguai? O Mercosul vai aplicar todos os tratados que assinamos. A Unasul também. --

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